quarta-feira, abril 12, 2006

Em lugar algum!


Ao acordar senti uma estranha sensação, como se me faltasse algo, ou tivesse feito algo que não me lembro precisamente. Senti-me incompleto ao acordar. E andei o dia todo com esta sensação e este pensamento a retumbar na minha cabeça.
Mais tarde compreendi...
Ao regressar a casa tive necessidade de arrumar algumas coisas e sem querer encontrei a caixa onde guardo as tuas recordações, as nossas recordações e compreendi...
Compreendi que esta sensação era provocada por uma carta que há muito havia escrito e que nunca tive a oportunidade de te enviar.
Sentado no chão, li e reli esta carta, recordando o momento, os sentimentos com que ela foi escrita, sentindo dentro de mim o amor que te tenho.

"Meu Amor,

Ansiaste pela minha presença, tal como eu ansiei pela tua. Desejaste o meu carinho, como eu desejei o teu calor e o suave toque da tua pele. O leito cresce a cada dia que não estás, sinto-me encolher, aumentando o espaço disponível ao meu redor.
E... meu amor, anseias pela liberdade como eu a anseio para ti? Desejas libertar-te dos teus medos e prisões como eu desejo que tenhas a coragem de assumir os teus sentimentos e lutares pela tua felicidade. Percorrendo o caminho, curto, que te separa dela. Não só, mas acompanhada, sem temer qualquer consequência, sem recear cair, pois vou estar a teu lado, amparando-te e ajudando a chegar ao final, coroando com êxito este percurso, para no fim, ambos recebermos a nossa recompensa, a felicidade que desejamos partilhando o amor que sentimos.
Não consigo continuar a fingir que não te conheço, cruzando-me contigo, sendo obrigado a afastar-me, quando os meus passos me levam a caminhar na tua direcção. Fingindo ausência de sentimentos por ti, quando o meu coração grita a quem o quiser ouvir, o meu amor por ti.
E embora, á semelhança de tantas outras noites, estejamos ausentes um do outro, a verdade é que naquela doce noite ambos pertencemos um ao outro, como devia ser sempre. Contudo sei que essa noite única e memorável e que jamais a voltaremos a viver, mas continuo a desejar pegar a tua mão, segurando-a com carinho, para te levar para onde apenas o amor é importante.
Num local há muito sonhado, para onde podemos ir sem nada temer, um local para nós, onde ninguém sabe quem somos, não podendo por isso fazer juízos, censurando ou tomando qualquer partido.
Porque tudo o que mais quero é votar a minha vida apenas a ti, amando-te incondicionalmente. Transformando-te na mulher mais especial do Universo. A mulher mais amada.
E eu sonhei este sonho por demasiado tempo, continuando ainda a sonhá-lo e por isso tenho receio de não conseguir sonhar mais.
Anda, vamos então, pega a minha mão e fujamos, confia e deixa-me guiar-te até onde tenho sonhado.
Estaremos de partida, caminharemos lado a lado esta noite. Não há necessidade de partilhar este desejo com ninguém, quem sabe se tal não criaria obstáculos dificeis de ultrapassar, se não nos tentariam demover desta resolução, acabando por ficarmos destroçados, colocando em causa o mais belo amor que há memória.
E ao amanhecer já estaremos a meio caminho de lugar algum, um lugar onde não são necessárias justificações, um lugar onde só nós somos importantes.
Esquece a tua vida e as tristezas que ela te provoca. Vem comigo sem olhares para trás, estás segura. Abre o teu coração, baixa as defesas, não precisas ter medos, já não há ninguém para te impedir.
Vem, vamos ser felizes!"

E ao compreender apercebi-me que a realidade é unica.
Amo-te e é inegável.

quarta-feira, abril 05, 2006

Sonhei-te...


... mas...
... ainda é madrugada, que faço acordado?
Pego no relógio e apercebo-me que ainda a madrugada vai a meio, mas... porque acordei? Sento-me, ainda na cama, saboreando o ambiente intímo conferido pela escuridão em que se encontra o quarto e começo a raciocinar. Primeiro lentamente, progredindo gradualmente, recordando os pensamentos que cortaram a sonolência em que estava mergulhado.
Aos poucos, fragmentos do sonho vêm à cabeça, fragmentos soltos que aguardam o fio condutor que os irá unir a todos.
Recordo-me... sim, estou a começar a recordar.


É dia, de tarde mais concretamente, o Sol já não está tão alto, tendo já começado a sua descendência, rumo ao ocaso.
Estou à beira de um Lago, limpído, claro e plano, sem qualquer agitação. De pé, sob a sombra de uma árvore centenária (e sábia quiçá) observo a outra margem onde um "clã" de patos se passeia vaidosamente nestas águas. Numa formação militarmente ordeira, lá vão eles desfilando a sua vaidade e orgulho.
Um pouco mais acima, nos céus, as nuvens deram lugar a um azul magnífico, pontuado aqui e ali por uma qualquer ave.
Na minhas costas, sinto-te aproximar.
Começo a mostrar-te o "clã" nadador, como se de um criador me tratasse, salientando a pose altiva e a penugem que carregam. Chamo a tua atenção para o brilho das águas e ambos sentimos que estamos apenas a adiar o inadiável.
É então que encontro o teu olhar. Meigo e sincero. Aproximo-me de ti, percorrendo a distância que falta até os meus lábios tocarem os teus. Primeiro com suavidade, a mesma de quem se está a descobrir, para vir a dar lugar a um beijo mais apaixonado, cheio de ardor, a faíscar de paixão. Olho nos teus olhos e consigo ler que desejavas aquele momento tanto como eu. E com esta certeza beijamo-nos novamente. Abraço-te bem apertada e sinto-te calma, tranquila. Naquele instante tenho a certeza que te amo.

Mas...?
Como pude acordar com este sonho?
A partir daqui os restantes fragmentos não se conseguem encaixar e fica como que um buraco negro neste sonho.
Ainda, exactamente na mesma posição, apercebo-me que já passaram algumas horas desde o inicío.
Volto a concentrar-me no sonho e a tentar encaixar os fragmentos que faltam. Aos poucos vão encaixando uns nos outros, vão fazendo sentido.

Entretanto estamos numa estação de comboios e descubro porque acordei. Estamos a despedir-nos saudosamente, sem esperança de reencontro, mas com muito amor.
O meu coração bate descompassadamente, porque estou prestes a ver-me privado de ti, o comboio apita e...

... acordei.
Estou sentado na cama, lágrimas rolam no meu rosto.
Amo-te. Amas-me. Não compreendo porquê! Porquê esta vida?
Já não volto a dormir, não é possível. Dominas o meu pensamento, possuis o meu coração.

Amo-te!