quarta-feira, abril 05, 2006

Sonhei-te...


... mas...
... ainda é madrugada, que faço acordado?
Pego no relógio e apercebo-me que ainda a madrugada vai a meio, mas... porque acordei? Sento-me, ainda na cama, saboreando o ambiente intímo conferido pela escuridão em que se encontra o quarto e começo a raciocinar. Primeiro lentamente, progredindo gradualmente, recordando os pensamentos que cortaram a sonolência em que estava mergulhado.
Aos poucos, fragmentos do sonho vêm à cabeça, fragmentos soltos que aguardam o fio condutor que os irá unir a todos.
Recordo-me... sim, estou a começar a recordar.


É dia, de tarde mais concretamente, o Sol já não está tão alto, tendo já começado a sua descendência, rumo ao ocaso.
Estou à beira de um Lago, limpído, claro e plano, sem qualquer agitação. De pé, sob a sombra de uma árvore centenária (e sábia quiçá) observo a outra margem onde um "clã" de patos se passeia vaidosamente nestas águas. Numa formação militarmente ordeira, lá vão eles desfilando a sua vaidade e orgulho.
Um pouco mais acima, nos céus, as nuvens deram lugar a um azul magnífico, pontuado aqui e ali por uma qualquer ave.
Na minhas costas, sinto-te aproximar.
Começo a mostrar-te o "clã" nadador, como se de um criador me tratasse, salientando a pose altiva e a penugem que carregam. Chamo a tua atenção para o brilho das águas e ambos sentimos que estamos apenas a adiar o inadiável.
É então que encontro o teu olhar. Meigo e sincero. Aproximo-me de ti, percorrendo a distância que falta até os meus lábios tocarem os teus. Primeiro com suavidade, a mesma de quem se está a descobrir, para vir a dar lugar a um beijo mais apaixonado, cheio de ardor, a faíscar de paixão. Olho nos teus olhos e consigo ler que desejavas aquele momento tanto como eu. E com esta certeza beijamo-nos novamente. Abraço-te bem apertada e sinto-te calma, tranquila. Naquele instante tenho a certeza que te amo.

Mas...?
Como pude acordar com este sonho?
A partir daqui os restantes fragmentos não se conseguem encaixar e fica como que um buraco negro neste sonho.
Ainda, exactamente na mesma posição, apercebo-me que já passaram algumas horas desde o inicío.
Volto a concentrar-me no sonho e a tentar encaixar os fragmentos que faltam. Aos poucos vão encaixando uns nos outros, vão fazendo sentido.

Entretanto estamos numa estação de comboios e descubro porque acordei. Estamos a despedir-nos saudosamente, sem esperança de reencontro, mas com muito amor.
O meu coração bate descompassadamente, porque estou prestes a ver-me privado de ti, o comboio apita e...

... acordei.
Estou sentado na cama, lágrimas rolam no meu rosto.
Amo-te. Amas-me. Não compreendo porquê! Porquê esta vida?
Já não volto a dormir, não é possível. Dominas o meu pensamento, possuis o meu coração.

Amo-te!

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